Minha infância foi como um conto de encantamento, minha mãe, uma verdadeira fada que transformava folhas, galhos, argila e bolinhas de sabão nas melhores brincadeiras do mundo para mim e minha irmã mais velha.
Meu pai era o guardião do tesouro, o duende, que se encarregava de trabalhar e nos prover uma vida boa e feliz.
Minha avó paterna era a rainha, que morava em um castelo com o rei, um castelo encantado no qual tive o privilégio de visitar sempre, no qual a magia acontecia em forma de histórias e canções.
Minha rainha era uma verdadeira Contadora de Histórias e meu rei, um Bobo da Corte, sempre nos fazendo rir.
Ainda pequena sabia que herdaria o dom de minha mãe e minha avó, sabia que construiria uma casa com amor e não com tijolos, que iria dirigir uma carruagem e não um carro, que encontraria sapos e bruxas, mas que após a tempestade poderia contemplar o arco íris.
Sempre soube o que queria ser... uma “FAZEDORA DE SONHOS”. Escolhi inventar canções e histórias em meio a rodas alegres, ao invés de silabar em frente a cadeiras enfileiradas.
Acredito muito em DOM, como descreve Manoel de Barros:
“Vou ajeitar a você̂ um dom: Vou pertencer você para uma árvore. E pertenceu-me. Escuto o perfume dos rios. Sei que a voz das águas tem sotaque azul. Sei botar cílio nos silêncios. Para encontrar o azul eu uso pássaros. Só́ não desejo cair em sensatez. Não quero a boa razão das coisas. Quero o feitiço das palavras”.
Claro que ninguém se forma com diploma de “Fazedora de Sonhos”, por isso escolhi fazer magistério e na sequência; cursei graduação em pedagogia. Além de amar as crianças e entendê-las como grandes protagonistas na arte de ser feliz, precisava protegê-las das grandes máquinas de silabar.
Trabalhei por vinte e três anos como professora na educação infantil e no fundamental I, entre essas tarefas me dividia em coordenação pedagógica, contadora de histórias, criadora de apostilas infantis. Ministrei cursos e o principal, sou mãe de três lindas crianças.
Nesse tempo também me aperfeiçoei em vários cursos de formação, como os de contação de história e literatura infantil.
Cursei pós-graduação em Arte Cênica - Arte de Contar Histórias, iniciei uma busca frenética por cursos de musicalização de bebês e musicalização infantil.
Atualmente, curso pós-graduação em Musicoterapia, e por sentir necessidade de estar em roda com crianças, ainda dou aulas de musicalização e contação de histórias.
Aqui no nosso Quintal, sou coordenadora pedagógica e sonho junto com a equipe de professores, assim como Manoel de Barros acreditava, que a infância é um território de liberdade e que devemos aplicar o “criançamento” das palavras, ou seja, revolucionar a linguagem da forma como ela nos é apresentada, fazer dela um cenário de brincadeira.